As duas faces
Quantos lados têm uma moeda?
Não conheço o fundo de tua alma nem teus pensamentos mais solenes, mas tenho a certeza que você carrega um desespero no peito. Ao menos se sentiu triste essa semana, ou até mesmo hoje. Afinal, existe algo mais humano que a tristeza?
A melancolia tem se tornado algo tão banal nos dias atuais que se tornou um companheiro do ser humano. Talvez a tristeza algum dia ocupe o lugar do cão, pois esse infame companhia preenche sem permissão o coração de jovens e adultos. Cada vez mais e mais. Ela não é algo normal, não é como a dor de perder alguém querido ou talvez não conseguir vencer uma competição. É algo muito mais dúbio, como uma doença que vai te consumindo e aos poucos levando um pouco mais de sua essência para o vazio.
No final, só se encontra o mais profundo vazio. E então, de maneira inconsciente há algumas maneiras que o indivíduo encontra para suprir esse grande male. Talvez a primeira das soluções seja a tentativa pífia de se esforçar o máximo para resolver o problema. O indivíduo está realmente focado em sair do estado de tristeza cotidiana, sorri até para o seu vizinho. Ele vai em uma roda de amigos e passa horas ali e até sente pontadas de felicidade. Pode talvez ver a pessoa amada, ou então dar um abraço apertado na mãe.
Mas isso não adianta.
A tentativa de enganar o próprio coração é vã, apenas corrói cada vez mais ao chegar em casa. Ao ficar sozinho no banheiro, ao não sentir prazer escutando sua música favorita. Então de repente, você se torna carrasco de seu próprio ser. Nada é suficiente, não existe possibilidade de eu ser coisa alguma, sou o pior dos seres humanos. Minha dor é pequena. Talvez você até tenha uma condição satisfatória para viver, talvez haja pessoas próximas que realmente querem seu bem. Mas... Por quê?
Então você cai em um poço sem fundo, não encontra mérito algum nem qualquer qualidade em seu ser. Tudo aquilo que você é deixa de existir. E então há a enorme vontade de se diminuir mais e mais. O não posso, não consigo se torna cada vez mais presente no vocabulário. A disposição só cai cada dia mais, e você não quer atrapalhar os outros. Não quer mostrar sua fraqueza pro seu amigo ou pro seu pai ou talvez pra alguém que você confia.
Albert Camus, um dos maiores filósofos do século XX disse em uma de suas obras: “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia.'' A questão do suicídio pode significar não apenas o físico. É algo além do ato de retirar a própria vida.O suicídio pode ser também filosófico, a postura de desistir de si mesmo também pode ser considerada suicídio. Se subjulgar incapaz de chegar a lugar algum ou se tornar alguma coisa. É a visão mais negativa possível que alguém pode chegar. Essa situação pode chegar a um ponto que qualquer tipo de influência externa é irrelevante.
Nenhum ser humano conseguirá compreender os teus pensamentos, nem o teu jeito, nem os teus desejos. Mas talvez, isso não seja de todo ruim. Isso só mostra quão especial é cada um. Com suas próprias peculiaridades e aspirações, todos podem encontrar um caminho pelo qual valha a pena se esforçar.
Você pode ser feliz? Será que realmente um dia isso tudo vai passar? Os suspiros já não aliviam mais teu coração? Um dia haverá paz nessa alma inquieta?
Não precisamos ser felizes o tempo todo, nem é possível tal coisa. Não existem utopias na realidade, mas existe sim uma maneira de ao menos se sentir aliviado ao observar um dia nublado. O ser humano é uma folha em branco, você pode sim alterar sua própria essência. Talvez você não precise seguir todas as regras nem se adequar ao padrão que as pessoas esperam de você.
Existe um outro lado da moeda.
Comentários
Postar um comentário