A exposição


Surpresas e mais surpresas, pensando sobre a temporalidade e o sentido de vida acabei sendo nocauteado pelo mesmo assunto. Muito tempo jogado fora, combustível que já não presta mais.

O fóssil era tudo aquilo que cercava o presente e o atrapalhava de real. Chega de metafísica.



O assunto de hoje é a subjetividade. Um fotógrafo nesse caso faria a coisa de um jeito muito mais simples, e com algumas tentativas geraria uma incrível exposição que merecia ser contemplada por todos. Mas com o poeta a coisa é um pouco mais difícil. Não há espaços para erros, tudo que está lá existe por um motivo. Nenhuma palavra é em vão. Existem diversos exageros e devaneios, é a arte da palavra misturada a um toque de um vinho suave.

A prática leva a criação, não a perfeição. Cada vez mais me sinto envolvido com elas, e temos uma relação mútua de muita intensidade e momentos de vazio duradouros. Mas o objetivo hoje é sobre arte.

Ao adentrar naquela sala, havia já uma figura antropomórfica mergulhada em si. Vi dezenas de manequins pendurados por uma corda, tendo só a cabeça ali. E um outro manequim completo de cabeça para baixo. Alguns tinham tinta spray em sua superfície, podendo ser vermelha amarela ou azuis. O que mais me impressionou foi a ausência de um padrão para a altura que cada um estava pendurado. E os que mais me cativaram foram os que possuíam as três cores misturadas, eu tenho certeza que eu gostaria muito de ter qualquer tipo de contato com alguém desse tipo.

Vi cidades inteiras representadas em quadros, belíssimas fotografias e uma casa feita com restos de marcenaria que provavelmente iriam ser desperdiçadas, mas se tornaram arte. Tudo pode vir a ser arte.

E então me deparei com uma mulher que se mostrou muito graciosa. Ela pedia para ser olhada de duas formas. Uma como o artista a criou, com suas formas desnudas em um armário com uma tintura a óleo que não chegava a ser hiper-realista, mas não era cartunesca o bastante para ser qualificada como tal. Era alguém que existia e concentrava seu pensamento na própria condição. A abordagem psicológica da dor e do conflito era nitidamente mostrado ali. Não diria que ela estava triste, mas com a informação do armário sinto que representava ali sua alma. Nua e crua. Da maneira em que se realmente pode enxergar a essência do ser.  Espero que um dia ela se encontre também.

E então a coletânea de quadros ao lado me apresentava outra mulher, que é mais intensidade que felicidade, é mais flor que mulher. Ela se encontrava deitada, com um longo vestido boiando ao mar, onde seu rosto era coberto por folhas vermelhas que iam até seus ombros. Ela estava de maneira tranquila, até que no quadro seguinte inclina sua cabeça e afasta toda a sincronia do momento, e então ergue sua mão para pegar seu celular. Algo se rompeu ali, e isso tem me afetado de uma forma tão intensa que tive de ‘’fotografar’’ este momento.

O que mudou no final? A subjetividade tomou conta de mim, e eu enxerguei coisas por outros olhos.


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