A semana de 22. E nós com isso?
O que algo de um século de vida pode dizer sobre nossa vida cultural e artística? Refletir sobre um evento tão distante no passado pode tornar a revelar quais são os futuros das artes e também de como o comportamento e consumo se refletem nos valores que temos para nossa vida.
M. Maunier Et Sa Fille.Vicente do Rego Monteiro. 1922.
Evidentemente, quando lhe perguntam sobre um evento marcante no século passado não se pensa em primeiro plano em um movimento estético e cultural como a Semana de Arte Moderna. Talvez, por uma cultura e disseminação da História colonizada, não se pensa nem no Brasil. O quê isso diz sobre a própria história brasileira? O evento provavelmente escolhido será sobre os conflitos latentes como a Segunda Guerra Mundial, ou até mesmo a Guerra Fria. Contudo, quando se pensa no que representa para nós enquanto membros do século XXI o impacto artístico e cultural se dilui no tempo. Apesar de continuar na forma de luta, de fluxos econômicos e contextos políticos posteriores.
Cem anos após seu início, a revolução de 22 ainda não terminou. Estamos no processo que se convencionou chamar de capitalismo tardio, onde a internet que tinha por proposta um ambiente de debates e informações de circulação livre se reduziu a poucos conglomerados de mídia e que nos limita a acessar somente três ou quatro sites por dia. Como se consome arte nessas plataformas? Quais são as consequências de uma prioridade na função de divulgação antes da forma? Como a necessidade de reprodução infinita e ampla para ter relevância reflete os movimentos artísticos? Como a proposta da Antropofagia de Oswald de Andrade se comporta num ambiente globalizado e de massas?
A monetização e capitalização da arte nesse ponto se torna indispensável, já que há uma noção de transformar todos os aspectos de nossa vida em lucro. Seu modo pode ser indireto, com a captação de mais likes ou seguidores nas redes sociais, mas reflete também a forma de como lidamos com o cotidiano. Sempre repetindo o ciclo de atualizar as redes, pulando de galho em galho esperando alguma resposta. Quase sempre não há nenhuma.
O Homem Amarelo, Anita Malfatti. 1915-1916
Ótimo, tudo bem. O quê isso tudo tem a ver com a semana de 22? Bom, ainda estou pensando, mas a proposta cultural de gerar um movimento estético e artístico não está focada nas regras mas sim em uma postura de refletir o ambiente em que nós existimos. Produzir arte pela arte e consumir arte é o modo de se expressar e se identificar com o mundo. A abrangência do movimento reflete um modernismo brasileiro, que estava esgotado do padrão antigo que remete ainda ao século XIX. Está ultrapassado, assim como hoje ainda sente-se um mal estar com relação ao que se produz, com pouca representação do que nós sentimos. Queremos mais novidades, e também ve-lo-ci-da-de. Cabe a nós inventar e estourar tudo o que sentimos.
A contradição de 2022 quando se trata sobre nós é a dupla idealização em que somos completamente egoístas, mas ainda sem auto-estima alguma, por haver um ambiente conectado vinte quatro horas em que se vê o mundo inteiro sendo melhor que apenas um único indivíduo.
Os Operários. Tarsila do Amaral.1933
Um movimento é mais que a soma de seus envolvidos. Cada um abre mão de partes do seu ‘’eu’’ para somar ao todo, expressar e propor motivações estéticas e que reflete justamente quem somos. Estamos na possibilidade dos nichos, não da cultura aceita por todos, a cultura dita popular ou erudita, com aclamação geral e uma exaltação de clássicos. É necessária a revolução em todas as artes, antigas e modernas, os vídeos, podcasts, artes plásticas, literatura, poesia, músicas, desenhos…
É tempo do novo, é tempo de consumir e refletir sobre o que se consome. Vamos consumir e transformar-nos? Nem só de Netflix e Youtube viverá o novo homem.
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