Manifesto sobre a forma
Por que escrever? É a pergunta que mais me ocorre quando me deparo com algum artista. O que faz vazar a tinta de seu pincel, suas canetas transbordarem de palavras, suas cordas produzirem timbres variados. A experiência de publicar cem poemas no instagram me fez pensar especialmente sobre forma, assim como uma pesquisa que estava fazendo sobre cinema e os impactos da tecnologia na possibilidade do conteúdo. Quanto mais a técnica avança, a reprodução e os meios de consumo se adaptam, gerando novas tendências e demandas. O impossível no analógico, é possivelmente adaptável no digital, e segue criando novas ideias.
A principal questão de um manifesto é sempre a de um conteúdo. Sempre envolto de noções vanguardistas ou revolucionárias, críticas de uma vigência que já não supre e não explica o sofrimento humano. A crítica se dá sempre no campo daquilo que é dito, feito, produzido, elaborado ou reproduzido. Mas as condições de divulgação e de interpretação da realidade, especialmente na arte, estão totalmente ligadas aos meios de comunicação e ao formato (livro, cartaz, pintura, instagram, blog, cartas, etc…) Sua produção limita o escopo primeiramente no campo da imaginação, que deve-se adequar a certas normas e espaços para ser inteligível. A produção de uma arte está necessariamente aprisionada pela sua forma, e seus objetivos de captação. Afinal, o que o artista está procurando?
Até entre as esquerdas, o discurso liberal de produção de arte é sempre dominante. Sempre são artistas que estão em um projeto individual, independente do objetivo ser financeiro ou de expressão. A regra é sempre a proposta de uma arte disforme, sem objetivos sociais e políticos. Até quando se fala sobre política na arte, todas suas manifestações se dão de um viés neutro, como se a forma de uma produção artística fosse natural, ou apenas uma aptidão do artista. É um reflexo de alguém que está inserido em uma realidade mercantil e viciada em conteúdo. Como o consumo é rápido, todas as tendências estão fadadas a serem insignificantes.
Outro fator relevante é o tempo de produção, que em uma sociedade que devora incessantemente todas as produções, nada promove, sente, absorve ou exalta. Não há heróis por não existi passado. O presente devora o tempo-espaço, e sempre há demanda por novidades sem substância. Sem discurso reacionário ou conservador, simplesmente é preciso haver tempo para o tédio. Sentir e absorver o que algo pode comunicar. É preciso abrir um pouco de mão, enquanto artista, de uma demanda individual e construir um senso de coletividade. Engajar-se com o mundo, produzir uma linguagem que esteja situada em um contexto de identificação. Estar com o outro, produzir para o outro, e construir um senso estético que representa mais que o próprio estilo. O quê estamos consumindo para sermos tão diferentes assim? Que influências obscuras são essas? São perguntas que permanecem no final do dia, para quem lê e para quem produz.
Segue-se então o manifesto em cartaz:
MANIFESTO CONTRA A FORMA
TODA FORMA É LIMITANTE E LIMITADA, É PRECISO SUPERAR AS BARREIRAS ÓBVIAS E CRIAR O INUSITADO.
É PRECISO ADERIR A UM ESTILO, APERFEIÇOAR-SE NAQUILO QUE SE É. O INDIVÍDUO NUNCA É MAIS IMPORTANTE QUE SEUS COLETIVOS, TAMBÉM NA ARTE.
PRODUZIR COM FOCO NO FUTURO E NO PASSADO, MAS SEMPRE SENDO UM RETRATO DO PRESENTE.
FALAR SOBRE SI, DE FORMA HONESTA, VALE MAIS QUE TECER O MUNDO DE COMENTÁRIOS FÚTEIS.
TODOS OS RECORTES, TODAS AS PRODUÇÕES, EXISTEM SENÃO PARA CAUSAR UMA PROFUNDA IMPRESSÃO, NO AUTOR OU NO LEITOR.
A ARTE NÃO PODE SER UM REFÚGIO, NÃO É UM FRONT DE BATALHA PERDIDA. SE A BELEZA NÃO DEVE SALVAR O MUNDO, QUE SALVE A SI MESMA!
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