Um pequeno diálogo sobre masculinidade

    Todo homem tem raiva. Mesmo os mais gentis que conheci já foram rudes, mesquinhos, egoístas e insensatos. Nenhum homem tem uma figura saudável masculina. Não existe exemplo a ser seguido, não há herói que justifique cada ato ou modelo. É a dualidade entre cuidar e ser cuidado, passar a sensação de segurança enquanto tenta esconder ou ignorar os sentimentos é tido sempre como solução. Na verdade, o que a educação formal e informal reforça na estrutura da sociedade é sempre deixar de lado o problema, pois haverá uma mulher que cuidará disso. Apesar da comparação batida, a figura da mãe e da companheira serem análogas representa mais a deficiência de uma relação materna conturbada. Há sempre uma ideia de que a responsabilidade é um fardo, e que logo deve gerar ressentimento, obrigatório residir em alguma instância o que é cansativo. Há sempre uma dificuldade em não se comparar com o exemplo paterno e a falta dele. O padrão é o egoísmo, seja por fora ou por dentro. Há muito silêncio, e os dados apontam que os índices de depressão e solidão são maiores em homens. O quê há de debate no momento?


    Ser sincero consigo é uma força. Aprendi muito especialmente com o Kendrick Lamar que ser sincero com os próprios sentimentos não é ser vulnerável. Despejar na própria arte uma versão mais dolorosa, e insegura. As falhas constantes e necessárias para amadurecer, ele assume todos os erros, sabe exatamente o que é, mas não se faz de coitado. Um homem quando assume qualquer defeito tem o hábito de culpar outra pessoa, ou as condições externas. Ninguém precisa de mais heróis para idealizar falsamente. É difícil confiar na própria estima, e apesar dos pesares, aprendi muito também a ser confiante e saciar um pouco de ego na certeza de que estou evoluindo. Se o que eu escrevesse não prestasse, em absoluto, jamais continuaria a produzir dessa forma. Talvez, apesar de todos os elogios maravilhosos de pessoas que amo muito, o que eu mais precise é validar meus próprios textos. Eu odeio a maioria, tenho vergonha de reler, e também não tenho o hábito frequente de reeditar. Esse texto é também uma forma de demonstrar que preciso falar mais, estar mais disposto a pedir ajuda. Gostaria de um dia me sentir mais confiante, não me julgar tanto.


    É lindo quando vejo um amigo meu chorando, é tanta coisa pra colocar pra fora. Não precisamos gerar soluções, apenas compreender, ser solícito. Viver com emoções muito básicas é como estar doente, quando não se confia em ninguém, não há espaço nem para refletir sobre o que se sente. É o ego saciado, o sexo ralo, vicio em pornografia, relações rasas com todas as mulheres em qualquer tipo de relação. É o medo de dizer que ama, seja a mãe, o cachorro, o amigo. Os muros de proteção que transbordam e dizem que todos são inimigos. É angustiante. As noções de amor próprio estão menos no discurso e sim em pequenas conexões com o outro. Talvez eu ainda não consiga criar uma definição para o que seja ser homem, mas definitivamente sei o tipo de homem que NÃO quero ser.


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