A senhora da rua Orvalho
Outono
Em uma manhã fria de domingo, o coração do senhor que morava no início da Rua Orvalho parou de bater. Ele era bem querido por toda a vizinhança. A notícia foi um grande choque principalmente para sua amada esposa.
Em trinta anos de casados eles vivenciaram muitas coisas juntos. Dezenas de viagens, diversos problemas internos e familiares, criaram dois filhos que já estão adultos e formados. E agora aproveitavam de sua velhice com muita tranquilidade.
Sempre acordava bem cedo pela manhã, saia para tomar um sol enquanto lia o jornal matinal. Todos que passavam pela rua o cumprimentavam, chamando-o de Batista. Ele gostava de impor respeito, porém não era ranzinza nem desagradável de maneira alguma.
O vizinho que morava ao lado sempre o chamava de Soldado Batista, por ter construído uma longa carreira no exército. Batista sempre zelou por sua casa e pela sua família, e estava satisfeito com a educação de seus filhos.
Sua amada, Rosa, era uma mãe excepcionalmente cuidadosa e doce como um mel. Após o falecimento do marido ela recebia constantes visitas de seus filhos e de algumas amigas próximas. Mas quando eles não estavam ela passava a maior parte do tempo deitada. Exausta da vida e sem planos para o futuro, seu maior passatempo era repensar nos bons tempos de sua mocidade ao lado de seu marido.
Rosa possuía muitos arrependimentos. Muitas coisas que poderia ter feito, mas com receio de falhar não o fez. Riscos que não correu emoções que não sentiu, por ter tímida, principalmente em sua mocidade. Ela teve muitas oportunidades de vivenciar coisas incríveis, mas acabou optando pelo mais seguro e casando-se com um militar.
Talvez sua memória afetiva tivesse alterado os fatos, talvez ela não tenha sido tão feliz assim. Ela queria ter se mudado daquela pequena cidade. Seus pais não aprovaram e ela simplesmente continuou, criando seus filhos sem saber se seu marido voltaria para casa vivo.
Ela queria ter alcançado coisas maiores. Ela só queria uma segunda chance de viver. Uma segunda chance que era algo impossível para ela.
Mais um dia de outono estava chegando ao fim, Rosa deitou-se e fechou os olhos. Sentiu uma luz muito forte penetrar seus olhos, porém não conseguia abri-los. Um barulho estrondoso chegava aos seus ouvidos, ela soava muito e não mexia um músculo. O barulho aumentava como um zumbido a cada segundo até que chegou um momento que ele simplesmente parou. E a luz diminuía a cada instante que se passava.
Após alguns segundos Rose conseguiu abrir seus olhos, algo havia mudado. Havia um grande armário com adesivos de gatinhos na porta, uma grande mesa com um espelho ao lado esquerdo do quarto, ela já não estava em uma cama de casal. Seu quarto estava bem menor.
Ela já não sentia sua habitual dor nas costas, se sentia revigorada. Suas mãos estavam novas e oleosas novamente. Era a doce energia de ser jovem.
Era uma sensação inesperada e indefinível para Rosa, estava com seu corpo de dezessete anos novamente, e ela possuía a energia necessária para construir uma vida.
Apesar de não saber se é apenas um sonho, uma realidade alternativa ou um milagre ela saiu de seu quarto e viu seus falecidos pais que estavam vividos e cheios de vida como costumavam ser.
Eles continuavam radiantes como nunca! O bom humor era uma característica notável de sua família. Rosa agia sem muita enrolação, ela pediu uma segunda chance e estava recebendo-a de bom grado.
Já estava no período de sua graduação no ensino médio, e tudo se repetia como os conformes de sua história. Ela recebeu o convite de duas pessoas para acompanhar na cerimônia de entrada, sendo um deles o de Batista. Ela o escolhera por aparentar ser um homem de respeito, aprovado pela sua família. Eles nunca trocaram muitas palavras antes dessa ocasião, porém ela gostava do jeito que ele se portava. Um moreno alto, que exalava confiança.
O outro rapaz condizia com o típico estereótipo de rebelde-popular da escola, ele sempre conseguia tudo o que queria e era visto como o maioral pelos arredores. Rosa também achava seu charme de certa forma tentador, porém nunca seguiu adiante pelo fato de não se importar tanto com isso.
Entretanto, Rosa escolheu o rapaz rebelde. Era algo impulsivo o desejo de viver. Viver intensamente como se sua vida terminasse em qualquer sopro vindo dos ventos de um inicio de manhã.
Passada a cerimônia e o baile, ela decidiu que iria cursar a faculdade bem longe dali. Contradizendo a vontade de seus pais e seguindo com o rapaz em uma intensa aventura.
Eles iam em todas as festas que ocorriam na Universidade e em suas proximidades, diversas vezes nem se lembravam como chegaram em casa. Ela experimentou álcool pela primeira vez, se entorpeceu nos mais diversos tipos de drogas. Era uma vida bem ativa. Bem atípica.
Entretanto, Rosa não ainda se sentia satisfeita. Após terminar a faculdade decidiu viajar o mundo, já estava sozinha nesse ponto. Visitou diversos países excêntricos e conheceu inúmeras culturas que nem imaginava em seus maiores delírios.
Rosa continuava incessante em sua busca pelo prazer. Era algo inexplicável, uma sensação que parecia próxima e ao mesmo tempo distante. Se envolveu nas mais diversas atividades. Artes,música,literatura,esportes. Procrastinação mal fazia parte de seu vocabulário.
Envolveu-se com diversos homens e mulheres, nada fixo, sem compromissos. Sempre deixou isso claro. Ela queria continuar descobrindo o mundo ao seu redor.
Rosa aos trinta e sete, recebe a noticia do falecimento de sua mãe. Decide então retornar para sua pequena cidade. A alegria, o êxtase, o prazer. Nada disso fazia sentido naquele momento. As pessoas continuavam partindo, a morte continuava presente.
Ela então parou por algum tempo, e decidiu ir para um país bem pobre participar de ações sociais e ajudar de alguma forma as pessoas.Embora não encontrasse ainda o sentido de sua vida, se sentia aliviada de alguma forma.
Havia uma grande disputa de interesses políticos naquele local, e uma guerra civil estava prestes a se iniciar.Houve bastante repressão no povo, influenciando diretamente na vida de Rosa. Apesar de continuar dedicando-se no trabalho psicológico, na assistência de famílias carentes. Se sentia insegura e sem certezas.
Em algum ponto da guerra, soldados de um país vizinho foram enviados para confrontar a ditadura insana de um dos governantes. A fome assolava o local, as cidades destruídas eram comuns naquele local.
Alguns soldados foram movidos para resgate e proteção de civis, entre alguns que cuidavam da segurança estava um homem alto e moreno.
Ele sempre estava cercando e fazendo a proteção de Rosa, até que ela notou alguma semelhança com um rapaz que a convidara para sua formatura, décadas antes. E depois de longas conversas Batista e Rosa se conheceram pela primeira vez.
Depois da queda do ditador louco, ele seria enviado de volta para casa, e apaixonado pediu Rosa em casamento, que não viu outra resposta lógica além do sim.
Eles então retornam para sua pequena cidade natal e compram uma casa em uma rua chamada de Orvalho. Onde vivem juntos por longos e longos anos.
Até que por causa de problemas respiratórios Batista vem a falecer, e R osa num piscar de olhos se vê sem motivo para continuar.
Deitada em sua cama ela fecha os olhos, e desejava ter tudo diferente.
Um piscar de olhos apenas.
Rosa então falece após uma explosão de gás em sua cozinha. Toda a casa estava destruída.
Apenas um piscar de olhos.
A senhora da rua Orvalho finalmente tem seu descanso.
Em uma manhã fria de domingo, o coração do senhor que morava no início da Rua Orvalho parou de bater. Ele era bem querido por toda a vizinhança. A notícia foi um grande choque principalmente para sua amada esposa.
Em trinta anos de casados eles vivenciaram muitas coisas juntos. Dezenas de viagens, diversos problemas internos e familiares, criaram dois filhos que já estão adultos e formados. E agora aproveitavam de sua velhice com muita tranquilidade.
Sempre acordava bem cedo pela manhã, saia para tomar um sol enquanto lia o jornal matinal. Todos que passavam pela rua o cumprimentavam, chamando-o de Batista. Ele gostava de impor respeito, porém não era ranzinza nem desagradável de maneira alguma.
O vizinho que morava ao lado sempre o chamava de Soldado Batista, por ter construído uma longa carreira no exército. Batista sempre zelou por sua casa e pela sua família, e estava satisfeito com a educação de seus filhos.
Sua amada, Rosa, era uma mãe excepcionalmente cuidadosa e doce como um mel. Após o falecimento do marido ela recebia constantes visitas de seus filhos e de algumas amigas próximas. Mas quando eles não estavam ela passava a maior parte do tempo deitada. Exausta da vida e sem planos para o futuro, seu maior passatempo era repensar nos bons tempos de sua mocidade ao lado de seu marido.
Rosa possuía muitos arrependimentos. Muitas coisas que poderia ter feito, mas com receio de falhar não o fez. Riscos que não correu emoções que não sentiu, por ter tímida, principalmente em sua mocidade. Ela teve muitas oportunidades de vivenciar coisas incríveis, mas acabou optando pelo mais seguro e casando-se com um militar.
Talvez sua memória afetiva tivesse alterado os fatos, talvez ela não tenha sido tão feliz assim. Ela queria ter se mudado daquela pequena cidade. Seus pais não aprovaram e ela simplesmente continuou, criando seus filhos sem saber se seu marido voltaria para casa vivo.
Ela queria ter alcançado coisas maiores. Ela só queria uma segunda chance de viver. Uma segunda chance que era algo impossível para ela.
Mais um dia de outono estava chegando ao fim, Rosa deitou-se e fechou os olhos. Sentiu uma luz muito forte penetrar seus olhos, porém não conseguia abri-los. Um barulho estrondoso chegava aos seus ouvidos, ela soava muito e não mexia um músculo. O barulho aumentava como um zumbido a cada segundo até que chegou um momento que ele simplesmente parou. E a luz diminuía a cada instante que se passava.
Após alguns segundos Rose conseguiu abrir seus olhos, algo havia mudado. Havia um grande armário com adesivos de gatinhos na porta, uma grande mesa com um espelho ao lado esquerdo do quarto, ela já não estava em uma cama de casal. Seu quarto estava bem menor.
Ela já não sentia sua habitual dor nas costas, se sentia revigorada. Suas mãos estavam novas e oleosas novamente. Era a doce energia de ser jovem.
Era uma sensação inesperada e indefinível para Rosa, estava com seu corpo de dezessete anos novamente, e ela possuía a energia necessária para construir uma vida.
Apesar de não saber se é apenas um sonho, uma realidade alternativa ou um milagre ela saiu de seu quarto e viu seus falecidos pais que estavam vividos e cheios de vida como costumavam ser.
Eles continuavam radiantes como nunca! O bom humor era uma característica notável de sua família. Rosa agia sem muita enrolação, ela pediu uma segunda chance e estava recebendo-a de bom grado.
Já estava no período de sua graduação no ensino médio, e tudo se repetia como os conformes de sua história. Ela recebeu o convite de duas pessoas para acompanhar na cerimônia de entrada, sendo um deles o de Batista. Ela o escolhera por aparentar ser um homem de respeito, aprovado pela sua família. Eles nunca trocaram muitas palavras antes dessa ocasião, porém ela gostava do jeito que ele se portava. Um moreno alto, que exalava confiança.
O outro rapaz condizia com o típico estereótipo de rebelde-popular da escola, ele sempre conseguia tudo o que queria e era visto como o maioral pelos arredores. Rosa também achava seu charme de certa forma tentador, porém nunca seguiu adiante pelo fato de não se importar tanto com isso.
Entretanto, Rosa escolheu o rapaz rebelde. Era algo impulsivo o desejo de viver. Viver intensamente como se sua vida terminasse em qualquer sopro vindo dos ventos de um inicio de manhã.
Passada a cerimônia e o baile, ela decidiu que iria cursar a faculdade bem longe dali. Contradizendo a vontade de seus pais e seguindo com o rapaz em uma intensa aventura.
Eles iam em todas as festas que ocorriam na Universidade e em suas proximidades, diversas vezes nem se lembravam como chegaram em casa. Ela experimentou álcool pela primeira vez, se entorpeceu nos mais diversos tipos de drogas. Era uma vida bem ativa. Bem atípica.
Entretanto, Rosa não ainda se sentia satisfeita. Após terminar a faculdade decidiu viajar o mundo, já estava sozinha nesse ponto. Visitou diversos países excêntricos e conheceu inúmeras culturas que nem imaginava em seus maiores delírios.
Rosa continuava incessante em sua busca pelo prazer. Era algo inexplicável, uma sensação que parecia próxima e ao mesmo tempo distante. Se envolveu nas mais diversas atividades. Artes,música,literatura,esportes. Procrastinação mal fazia parte de seu vocabulário.
Envolveu-se com diversos homens e mulheres, nada fixo, sem compromissos. Sempre deixou isso claro. Ela queria continuar descobrindo o mundo ao seu redor.
Rosa aos trinta e sete, recebe a noticia do falecimento de sua mãe. Decide então retornar para sua pequena cidade. A alegria, o êxtase, o prazer. Nada disso fazia sentido naquele momento. As pessoas continuavam partindo, a morte continuava presente.
Ela então parou por algum tempo, e decidiu ir para um país bem pobre participar de ações sociais e ajudar de alguma forma as pessoas.Embora não encontrasse ainda o sentido de sua vida, se sentia aliviada de alguma forma.
Havia uma grande disputa de interesses políticos naquele local, e uma guerra civil estava prestes a se iniciar.Houve bastante repressão no povo, influenciando diretamente na vida de Rosa. Apesar de continuar dedicando-se no trabalho psicológico, na assistência de famílias carentes. Se sentia insegura e sem certezas.
Em algum ponto da guerra, soldados de um país vizinho foram enviados para confrontar a ditadura insana de um dos governantes. A fome assolava o local, as cidades destruídas eram comuns naquele local.
Alguns soldados foram movidos para resgate e proteção de civis, entre alguns que cuidavam da segurança estava um homem alto e moreno.
Ele sempre estava cercando e fazendo a proteção de Rosa, até que ela notou alguma semelhança com um rapaz que a convidara para sua formatura, décadas antes. E depois de longas conversas Batista e Rosa se conheceram pela primeira vez.
Depois da queda do ditador louco, ele seria enviado de volta para casa, e apaixonado pediu Rosa em casamento, que não viu outra resposta lógica além do sim.
Eles então retornam para sua pequena cidade natal e compram uma casa em uma rua chamada de Orvalho. Onde vivem juntos por longos e longos anos.
Até que por causa de problemas respiratórios Batista vem a falecer, e R osa num piscar de olhos se vê sem motivo para continuar.
Deitada em sua cama ela fecha os olhos, e desejava ter tudo diferente.
Um piscar de olhos apenas.
Rosa então falece após uma explosão de gás em sua cozinha. Toda a casa estava destruída.
Apenas um piscar de olhos.
A senhora da rua Orvalho finalmente tem seu descanso.
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